Desde o início de maio, o Estado do Rio Grande do Sul vem enfrentando uma tragédia climática sem precedentes.
Em meio ao caos e incertezas, emoções intensas podem ser comuns em todos nós, como: angústia, medo, ansiedade, tristeza, impotência e compaixão.
Além de todas as perdas materiais, existe o impacto mental e emocional que atinge adultos e crianças e que podem refletir a curto, médio e longo prazo.
Nesse sentido, é importante destacar que intensas reações emocionais, físicas e cognitivas são esperadas e transitórias. Precisamos cuidar para não interpretar um como sinal de adoecimento o curso natural de adaptação diante de um evento estressor.
Perceber e sentir as emoções é necessário para podermos praticar o nosso autocuidado e promover o bem-estar emocional.
Precisamos entender primeiramente que, nós fazemos parte de tudo isso e, para passarmos por esse momento, com as mínimas condições de saúde para seguirmos adiante, precisamos olhar para as nossas necessidades e cuidar de nós mesmos.
Vamos lembrar do conceito de saúde mental? A
saúde mental não é a ausência de doença, ela é a nossa capacidade de lidar com os desafios, nos adaptarmos as situações de estresse.
Portanto, é sobre o nosso funcionamento diante da vida, é normal sentirmos uma mistura de emoções, uma instabilidade emocional. Isso não significa que estamos adoecidos ou que seja um sinal de fraqueza. Estamos enfrentando um momento extremamente desafiador, é compreensível e até esperado que isso aconteça.
Assim, é fundamental entendermos que
autocuidado agora não é egoísmo.
Posso continuar sendo sensível e solidário a tudo que está acontecendo e precisar cuidar de mim. Chamamos isso de autopreservação e nada tem a ver com negar do que está acontecendo.
Convidamos você a refletir: será que a melhor maneira de ajudar em algum momento talvez não seja manter-se fortalecido e com saúde?
Esse trabalho é a longo prazo, teremos muito ainda a fazer. Mas precisamos estar bem para poder saber como ajudar! E vale o reforço, isso não é fechar os olhos para o que está acontecendo, mas diminuir o tempo de exposição e trazer mais equilíbrio para a vida com outras coisas. Destacamos algumas seguir:
- Contatos sociais e rede de apoio — Converse com pessoas de confiança e compartilhe seus sentimentos. Caso não seja possível fazer isso presencialmente neste momento, utilize a tecnologia ao seu favor (videochamadas, mensagens, ligações…). No caso de crianças e adolescentes, torna-se benéfico que possam se relacionar com crianças da mesma idade.
- Momentos de lazer — Encontre momentos que tragam bem-estar em meio ao seu dia. Diante do contexto atual, pode ser mais difícil identificar situações alegres ou prazerosas, mas elas podem ajudar a fortalecer a sua resiliência emocional e facilitar o processo de enfrentamento das adversidades e desafios.
- Atenção ao seu sono — Procure dormir o tempo necessário para se sentir descansado. Crie uma rotina de horários para dormir e acordar, isso ajudará a regular seu ciclo circadiano, bem como a prática de atividades físicas. Evite o uso de telas antes de deitar e busque uma prática que ajuda no relaxamento, como a meditação.
- Tenha momentos de descanso — Sempre que possível, regenere a energia da sua mente, emoções e do corpo para seguir em frente e estar disponível para prestar o apoio necessário.
- Pratique exercícios de relaxamento — Procure reservar um momento para reduzir a ansiedade e a tensão por meio de exercícios de respiração e relaxamento que podem ajudar a dormir, se concentrar e ter energia para lidar com a situação. Clique aqui e confira um exercício de respiração no e-book Conhecendo a Ansiedade.
- Monitore o consumo de notícias relacionadas ao tema — A mídia possui um papel fundamental em momentos de crise, fornece alerta e informações necessárias. Porém, caso se sinta ansioso, estressado, com dificuldades para relaxar, busque não assistir/ler notícias antes de dormir, busque se informar conversando com outras pessoas e selecione fontes confiáveis para consumir conteúdos relacionados ao momento atual.
Cuide da sua alimentação — Mantenha uma alimentação equilibrada, priorizando nutrientes que forneçam a energia necessária e disposição para o seu dia. Procure beber água regularmente, dentro do possível.
Pratique atividades físicas — Dentro da sua rotina, busque movimentar o seu corpo para aliviar a ansiedade e o estresse.
Reconheça os seus limites — Nem todos conseguem auxiliar da mesma forma. Identifique e estabeleça os seus limites para encontrar formas de ajudar que estejam alinhadas ao seu contexto. Todos somos importantes.
Essas orientações são extremamente regeneradoras para a mente, emoções e para o corpo. Busque praticar o que fizer sentido e for possível em seu contexto.
Muitas vezes, ao pensar em realizar algo que faça com que você se sinta bem, venha um sentimento de culpa. Culpa por não estar ajudando o suficiente, culpa por fazer algo da sua rotina, culpa por descansar, culpa por se sentir bem fazendo algo que gosta…
E é importante validarmos esse sentimento e entender o que ele está querendo alertar. A culpa é uma emoção pró-social, ou seja, ela pode nos ajudar na conexão e na melhora das nossas relações. De maneira saudável, a culpa é muito importante para o bem-estar coletivo, pois, quando a sentimos, nos colocamos no lugar do outro.
No contexto que estamos vivendo, a culpa significa que temos empatia, cuidado com o outro. Porém, é preciso tomarmos cuidado para não sermos guiado por essa emoção, encontrando um equilíbrio entre o cuidado com o outro e o autocuidado.
Faça um pouco diariamente, o seu possível. Se observe, perceba seus limites, compartilhe seus sentimentos com pessoas de confiança, e procure ajuda profissional quando sentir necessário.
Lembre-se das orientações sobre o uso da máscara de oxigênio: em caso de alguma emergência, coloque primeiro a máscara em si antes de ajudar as pessoas próximas. Quando estamos esgotados não conseguimos ajudar.
Acolha e valide suas emoções, abrace seus familiares, esteja presente, converse sobre outros assuntos. Cuide das suas necessidades mentais, emocionais e físicas para cuidar.
E sempre que puder: doe, ajude, o nosso trabalho será longo e precisamos de todos bem!