Pode parecer um pouco lugar-comum afirmar que o homem não cuida da saúde da mesma forma que a mulher, mas será que é assim mesmo? Algumas pesquisas tem indicado que sim, que o homem custa a procurar ajuda e por isso acaba vivendo menos que a mulher: sete anos, em média, a menos, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No entanto, campanhas como a do Novembro Azul, criada em 2003, na Austrália, estão aí para ajudar a transformar esse cenário.
O objetivo da campanha, que inicialmente focava no diagnóstico precoce do câncer de próstata, nos últimos anos passou a incluir a conscientização do homem sobre a necessidade de cuidar da saúde na sua integralidade. “A gente sabe que o homem vive menos do que a mulher, e um dos motivos é que ele, por questões culturais, sociais, econômicas, enfim, sempre se colocou numa posição de que não pode e não deve ficar doente. Mas felizmente temos percebido que isso está mudando, aos poucos", afirma o
Dr. Renan Desimon Cabral (foto), médico urologista cooperado da Unimed Porto Alegre. E por isso campanhas como o Novembro Azul são essenciais, para que, cada vez mais, aumente a conscientização para a necessidade de realização de exames de rotina e acompanhamento da saúde.
Detecção precoce
O câncer de próstata, depois do câncer de pele, é o mais frequente em homens no Brasil. A boa notícia é que, quando diagnosticado precocemente, tem cerca de 90% de chance de cura. O acompanhamento médico de rotina ao longo da vida auxilia na prevenção e na detecção precoce da doença. “Se não pudermos evitar, pelo menos podemos fazer o diagnóstico precoce que melhora em muito a chance de cura na maioria dos casos", aponta o urologista.
A recomendação é que o homem comece a fazer os exames relativos à investigação do câncer de próstata aos 50 anos de idade – ou aos 45, no caso de pacientes que possuam familiares de primeiro grau com câncer de próstata ou mama, pacientes obesos e pessoas negras (em virtude de questões genéticas). Independentemente da idade, quem apresenta alguma alteração suspeita deve procurar atendimento médico.
Exames indicados
O PSA (antígeno prostático específico) é um exame de sangue que deve ser feito anualmente. “Ele é utilizado para identificar doenças da próstata, não apenas o câncer. De um ano para outro, é normal que seu nível suba lentamente, mas se houver uma elevação rápida, isso pode ser um sinal de câncer", avisa o urologista. Já o exame de toque retal não precisa ser feito todo ano, essa indicação vai depender do perfil do paciente. “É um exame muito rápido, simples de fazer, indolor", afirma.
Outra etapa que passou a fazer parte desse processo nos últimos anos é a ressonância magnética. O urologista explica que se o paciente apresenta alteração no PSA ou no exame de toque retal, a recomendação é que se realize a ressonância para orientar a indicação da biópsia.
Doença silenciosa
O câncer de próstata, na maioria dos casos, cresce de forma lenta. Na fase inicial da doença, pode não haver sintomas e, quando eles existem, os mais comuns são dificuldade de urinar, diminuição do jato de urina, necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite e sangue na urina. “É essencial fazer os exames de rotina, porque essa é uma doença silenciosa, não dá sintomas no início. Quando há sintomas, geralmente, significa uma doença já avançada e, muitas vezes, sem a possibilidade de cura", ressalta o urologista.
Cuidado integral e desde cedo
Uma abordagem integral da saúde do homem, abrangendo acompanhamento de rotina, promoção de hábitos saudáveis e autocuidado, incluindo a atenção à saúde mental, seria o cenário ideal. Esse cuidado integral também envolve prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, de cânceres mais prevalentes e de outras doenças crônicas.
Isso estaria bem coberto em um acompanhamento de rotina que orientasse o paciente de acordo com as suas especificidades e que avaliasse diabetes, colesterol e pressão arterial. O ecocardiograma também é importante, pois as doenças cardiovasculares atingem muito os homens, e a colonoscopia é fundamental a partir dos 45 anos, para a detecção de câncer de intestino.
“O ideal seria o adolescente ter sua primeira consulta com o urologista quando inicia sua vida sexual, caso não tenha havido uma necessidade anterior", diz o Dr. Renan. Nesse contato inicial, seria feita uma revisão geral da saúde, orientação sobre doenças sexuais e vacinação contra o HPV e solicitação de exames de rotina. Caso o paciente permaneça com a saúde em dia, pode consultar a cada 5 ou 10 anos. “É importante que ele entenda que da mesma forma que vai ao dentista, é necessário ir ao médico fazer as revisões. Um primeiro contato do adolescente com o médico urologista é fundamental para orientação, para que ele possa se cuidar e se programar com relação à saúde", afirma.
De acordo com o urologista, os pacientes também têm se preocupado, mais recentemente, com a testosterona, e segundo ele, a obesidade tem relação direta com a queda em seus níveis. “Paciente com elevada gordura abdominal, que dorme mal, que ronca, vai ter menos testosterona", aponta. Isso reforça a necessidade de focar na qualidade de vida e na mudança de hábitos que podem impactar o risco para muitas doenças, inclusive o câncer de próstata. São exemplos dessas atitudes o controle do tabaco, prevenção ao uso do álcool, prática de atividade física, alimentação saudável (com pouca gordura animal), combate ao sedentarismo e à obesidade e estímulo a uma vida sexual ativa, com relações seguras.